[Pensa comigo] #1 - Livros são caros?

Este assunto é quase um consenso, não é? Todos dizem, sem medo de errar, que livros são caros e culpam vários aspectos por isso. E aliás, usam isso como desculpa para não ter o hábito de ler.

É um consenso tão poderoso que deixamos de raciocinar sobre a veracidade desta premissa, por isso, neste artigo, vamos entrar um pouco mais a fundo nesta discussão e verificar se realmente os livros são caros e se isso é um fator determinante para o hábito da leitura no Brasil.


Comecemos então de maneira bem objetiva: quanto custa em média o livro no Brasil:

Média do produto antes das livrarias: R$ 13,66 (2012)
Média do produto nas livrarias:  R$ 27,32 (2012)
Fonte: O globo/IBGE

Ou seja, com 30 reais você compra praticamente qualquer livro hoje em dia, correto? Agora vamos ver o quanto estes 30 reais significam no bolso do brasileiro:
Hoje o salário mínimo é de 678 reais, mas segundo este artigo na Folha de São Paulo, com base em dados do IBGE, a renda média mensal da família brasileira é de 1871,5 reais.
Com base nestes dados, temos que 1 livro (médio) representa mais ou menos 4,42% do salário mínimo e 1,6% da renda média do brasileiro.

Um hábito de leitura razoável seria o de ler 1 livro por mês (3 vezes mais que a média atual). Suponhamos então, que todos queiram ter um bom hábito, lendo 2 livros por mês. Um trabalhador que ganha salário mínimo teria que desembolsar cerca de 10% do salário por mês para investir em livros. A população de classe média teria que desembolsar cerca de 3,5% do seu salário mensal para ter um bom hábito de leitura.

Mesmo mostrando que o custo-benefício de um livro é muito bom, ainda pode-se argumentar que, é inviável investir de 5 a 10% do salário em lazer, cultura e educação – os três elementos compostos no livro - por que na vida do cidadão de classe médias não sobra dinheiro nenhum para nada além do básico (não acho que isso seja uma verdade, mas devo considerar os argumentos).

Então chegamos no grande ponto: se fizermos uma comparação com outros itens consumidos com frequência pela classe média, chegamos à conclusão que investir em livro não foge do padrão médio de consumo do brasileiro. Fiz uma tabela com alguns preços:

 Utilizei como base a realidade de Goiânia, que tem um custo de vida mais barato que a maioria das outras capitais, e dados de lojas online, como submarino e peixe urbano, sempre utilizando o valor real e não o promocional

Será que o brasileiro compra livros (ou vai ao teatro) com a mesma frequência que faz qualquer um dos outros itens? Com certeza não. Portanto, quando fazemos comparação, percebemos que monetariamente, o livro não é assim tão caro quanto parece, dentro da nossa realidade. Pelo contrário, considerando as outras opções que temos, e o custo benefício, ele é até uma das mais viáveis.

Mas, por que então ainda assim a maior parte das pessoas considera um livro uma coisa absurdamente cara e fora do alcance? Por que a maior parte ainda considera o livro um luxo dispensável? Por que as pessoas optam pelos outros itens de mesmo valor ao invés de um bom livro?

A resposta está na PERCEPÇÃO DE VALOR.

Considerar algo barato ou caro está relacionado a quanto você acha que aquele determinado produto vale e não ao seu valor nominal. Um carro zero, modelo do ano, custando mil reais é baratíssimo. Um apartamento na orla de alguma capital a dez mil reais é uma pechincha. Por outro lado, um bombom de chocolate sem recheio por cinco reais é um absurdo.

Ou seja, atribuímos a um produto o status de caro ou barato de acordo com a nossa percepção de valor daquele produto. No Brasil, está arraigado na cultura uma desvalorização natural de qualquer coisa relacionada a cultura e educação. O ponto é que a maioria das pessoas não acredita que um livro valha trinta reais.
 


As pessoas acham que com os mesmos trinta reais eu poderia comprar outros itens ou fazer outras coisas que seriam consideradas melhores, como ir a uma boate, comer no Mcdonalds, beber com os amigos, comer uma pizza com refrigerante, comprar um jogo para PC, ou etc. O livro, na cabeça da maioria das pessoas, não é tão interessante, tão mágico, tão envolvente, tão incrível  a ponto de valer 30 reais. E aliás, pra que eu vou comprar um livro se eu posso comprar uma calça nova? Ou um sapato novo?

A maioria das pessoas prefere fazer QUALQUER OUTRA COISA com trinta reais, a efetivamente comprarem um livro. Já pararam pra pensar nisso? O fato é que não é muito incomum vermos promoções online de livros a 10~15 reais e mesmo assim as pessoas não compram. Quem compra estes livros na promoção são as mesmas pessoas que costumam comprar por 30.

A verdade, amigos, é que muitas pessoas não lêem livros nem de graça. A conclusão que temos é que as pessoas não lêem simplesmente por que não gostam, e o preço é somente uma desculpa para justificar a sua falta de cultura. Porque, afinal, existem inúmeras alternativas baratas para quem quer ler.

Com 30 reais é possível ler livros para sempre: basta comprar um livro e depois trocá-lo usando a plataforma do skoob. E você pode ler e trocar livros infinitamente até o fim da sua vida (claro, só com o preço de envio pelo correio).
A  vantagem do livro é que, acima de tudo, é eterno. Ou seja, um livro que você compra, os seus irmãos podem ler, os seus pais, todos os seus amigos. E depois os seus filhos. E quem sabe seus netos. Trinta reais podem gerar educação, entretenimento e cultura para dezenas ou quem sabe até centenas de pessoas.

Usando esta lógica, imaginem um grupo de 10 amigos que se juntam e decidem 10 títulos que todos querem ler. Cada um contribui com 30 reais, e eles conseguem comprar os 10 livros e fazer um rodízio, o que garantiria alguns meses de leitura por um preço mínimo.

Na pior das hipóteses, você pode ir a uma biblioteca e ler de graça.

Mas não podemos deixar de lembrar que existe um grupo de pessoas que não quer trocar livros e não quer simplesmente ler. Eles querem TER os livros. Montar uma estante e apreciar a mistura das cores das capas, o cheiro de papel quando você está próximo, ouvir aquele murmurinho que só o silêncio de uma estante repleta pode proporcionar. Estas são as pessoas que compram dez ou vinte livros por mês, mesmo sem conseguir ler nem metade. E continuam comprando.
Este tipo de prática, é sim, mais cara de se manter, mas não é um requerimento se você quer manter um bom hábito de leitura.

Não é caro manter um bom hábito de leitura. Colecionar livros, pode ser.

Eu mesmo tenho como filosofia de vida pessoal de nunca comprar livros por mais de R$29,90 (somente se for o caso de um livro que estou desesperado para ler, o que não acontece com muita frequência).
Na maioria das vezes, porém, eu uso as promoções frequentes do submarino e abasteço a estante o suficiente até a próxima promoção. Tem muito, muito tempo que não gasto mais de 20 reais em um livro e estou sempre lendo. Ou seja, só não compra livro quem não quer! ;)
Ainda assim você pode contribuir para a diminuição dos preços, como mostro neste artigo: 8 Motivos para você comprar e ler livros nacionais

Portanto, a conclusão que eu chego aqui é a seguinte: Livros não são caros e não é fator determinante para a falta de hábito de leitura.

Mas se não é o preço dos livros, o que é então?
Na próxima semana vou trazer um artigo sobre este tema, mas queria ouvir a opinião de vocês:
Qual vocês acreditam que é o principal fator determinante para a falta de hábito de leitura no país?

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