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Mostrando postagens de dezembro, 2009

[Grandes Escritores] #7 - Diabólica - Parte Final

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Autor: Nelson Rodrigues Livro: A vida como ela é Conto: Diabólica Parte Final SONSA No dia seguinte. Alicinha passa por ele e pisca o olho: "Deixei de ser criança! Já não sou mais criança!" Isso poderia significar pouco ou muito. De Qualquer forma, desconcertado, ele chegou a transpirar. Mais dois ou três dias, e Alicinha vai procurá-lo no escritório. Senta-se a seu lado; diz: "Você tem medo de mim?" O pobre-diabo gaguejou: "Por quê?" E ela, com um olhar intenso, não de criança, mas de mulher: "Tem, sim, tem!" Parece divertida. E, subitamente, séria, ergue-se e aproxima-se. Estavam no gabinete de Geraldo. Alicinlia inclina-se, pede: — Um beijo. Lívido, obedeceu. Roçou, de leve, a face da pequena. Ela insistiu: "Isso não é beijo. Quero um beijo de verdade." Geraldo levanta-se. Recua, apavorado como se aquela garota representasse uma ameaça hedionda. Numa espécie de soluço, diz: "Eu amo minha noiva! A

[Grandes Escritores] #6 - Diabólica - Parte 2

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Autor: Nelson Rodrigues Livro: A vida como ela é Conto: Diabólica PARTE 2 FAMÍLIA Mas quando Dagmar confessou, aos pais, que advertira o noivo, foi um deus-nos-acuda. A mãe pôs as mãos na cabeça: "Você é maluca?" Quanto ao pai, passou lhe um verdadeiro sabão: — Foi um golpe errado. Erradíssimo! — Eu não acho. O velho tratou de ser demonstrativo: "Você pôs maldade onde não havia! Despertou a idéia do seu noivo!" Replicou, segura de si: — Papai, eu sei muito bem onde tenho o meu nariz. O pai andava de um lado para outro, nervoso. Estacou, interpelando-a: — E agora com que cara o teu noivo vai olhar pra tua irmã? Vocês, mulheres, enchem! E, além disso, parta do seguinte princípio: uma irmã está acima de qualquer suspeita! Família é família, ora, bolas! E Dagmar, obstinada: — Meu pai, gosto muito de Alicinha. E uma pequena ótima, formidável e outros bichos. Mas intimidade de irmã bonita com cunhado não! Nunca! CIÚMES DOENTIOS

[Grandes Escritores] #5 - Diabólica - Parte 1

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Autor: Nelson Rodrigues Livro: A vida como ela é Conto: Diabólica PARTE 1 Na noite do pedido oficial, Dagmar, de braço com o noivo, foi até a janela; que se abria para o jardim. Então, com uma tristeza involuntária, uma espécie de presságio, suspirou. E foi meio vaga: — Caso sério! Caso sério! E Geraldo, baixo e doce: — Por quê? Dagmar vacila. Finalmente, tomando coragem, indica com o olhar: — Estás vendo minha irmã? — Estou. Durante alguns momentos, olharam, em silêncio, a pequena Alicinha, de 13 anos, que, na ocasião, apanhava uma flor, no jarro, para dar não sei a quem. Dagmar pergunta: "Bonita, não é?" Geraldo concorda: "Linda!" Então, pousando a mão no braço do noivo, a pequena continua: — Por enquanto, Alicinha é criança. Mas daqui a um ano, dois, vai ser uma mulher e tanto. — Um espetáculo! Sorriu, triste: — Um espetáculo, sim! — Pausa e, súbito, tem uma sinceridade heróica: Há de ser mais bonita do que eu. Geraldo interrompeu: