[PECADOS E TRAGEDIAS] #13 - Alceu e Marieta

PECADOS E TRAGEDIAS
EP13 - ALCEU E MARIETA: Alceu e Marieta conta a história de uma menina apaixonada por livros que decidiu viver uma tragédia Shakespeariana. Porém, ela acaba indo longe demais em sua fantasia e o final de toda esta confusão acaba sendo assustadoramente surpreendente.

 Leia os primeiros capítulos:

EP 13 - ALCEU E MARIETA

Um belo dia, a mãe deu a Marieta um presente mágico:
    - Minha querida, hoje vou lhe dar um presente que jamais irá esquecer. Foi assim comigo e foi assim com todos os outros de nossa família.
    A mãe tirou da bolsa um exemplar de ‘Meu pé de laranja lima’ e entregou nas mãos da menina de 6 anos. Ela estava maravilhada.
    Até então, todas as histórias eram lidas para ela, e agora, finalmente, teria a oportunidade de ler sozinha o seu próprio livro.  Marieta agradeceu e saiu correndo para o quarto para tentar decifrar o que havia naquela obra.
    Durante todo o dia ela leu e releu aquela história quantas vezes foi possível e ficou empolgadíssima. Seu primeiro pensamento antes de dormir foi: quero mais. E assim começou a sua paixão por livros.
Este foi só o primeiro de muitos e muitos outros que vieram. Aos 10 anos já tinha lido mais de cento e cinquenta livros o que lhe garantia sempre excelentes notas nas aulas de português.
    O tempo passava e Marieta crescia, mas seu amor pela literatura nunca cessava. Os temas mudavam e os livros se tornavam mais maduros. Ela lia sobre amores incondicionais, mortes, traições e tragédias, além de fantasia, mistério, crimes e investigações.
    Então, considerando-se uma boa leitora, começou a aventurar-se pelos clássicos. O primeiro foi Os Miseráveis de Victor Hugo e, dali para as obras Alexander Dumas foi um pulo. Morreu de amores com Orgulho e Preconceito e adotou a Jane Austin como autora favorita por um tempo. Continuou nos internacionais até chegar em “O primo Basílio” que ela achou interessantíssimo. Gostou de um clássico escrito originalmente em português, mesmo não sendo bem o nosso português e, por conta disso, achou que era a hora de entender mais da literatura nacional.
Entre O cortiço e Vidas secas, acabou mesmo foi ficando apaixonada por Dom Casmurro. Leu Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba logo em seguida só pra continuar na companhia de Machado, que assumiu o posto de Austin. Ouviu dizer que suas obras em muito se pareciam com as de Shakespeare e resolveu então, se render ao mestre da literatura mundial.
Foi então que aconteceu algo que nem ela conseguiu prever: depois de ‘Otelo, o mouro de Veneza’, precisou de uma semana para processar tudo o que havia lido e ainda assim não conseguia acreditar. Foi então para Macbeth e Rei Lear.
A cada palavra ela ficava ainda mais impressionada e não conseguia acreditar como aquilo era possível. Foi então que ela leu uma obra que fez seu coração parar de vez.

Alceu e Marieta

Ela releu dez vezes seguidas a história de Romeu Monteccio e Julieta Capuleto e se apaixonou em cada uma delas. Era uma história tão linda.
Marieta suspirava de amores com Shakespeare debaixo do braço e, onde quer que fosse, apelidava seus colegas de personagens do livro que já sabia de cor.
A menina só tinha dezesseis anos quando começou a desejar intensamente viver uma história de amor como aquela de Verona. Queria por que queria um amor eterno, pelo qual valia a pena morrer.
Tal foi sua surpresa quando, em uma festinha da escola, um certo Alceu se aproxima e segura sua mão:
- Você dança? – Perguntou, meio abobado.
Toda a cena cinco do primeiro ato foi repassada em sua cabeça. Sentiu-se encantada.
- Mas é claro.
E então se aproximaram e começaram a se remexer ao som de um funk monossilábico.
Não conseguiam conversar direito, por que a música estava alta. Mas ele sorria para ela e ela sorria para ele. E quem visse de fora aquele casal, sorriria também, pois a sinergia de Alceu e Marieta era linda de se ver.
Ele a beijou. Uma, depois duas, depois três vezes. E depois partiu como se isso fosse a ação esperada a se fazer.
- Eu o amo – Disse para Ana, sua melhor amiga, que riu freneticamente, sem demonstrar carinho ou compaixão.
- Você acabou de conhecê-lo. Para de bobabens.
Mas naquele dia ela chegou em casa, deitou-se na cama e imaginou a pena de William Shakespeare contando os próximos passos de sua vida.

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