Eu te amo, Vovó!

Eu não tenho muito costume de falar da minha vida pessoal no blog, nem no facebook, twitter ou etc. Não é uma crítica nem nada, eu simplesmente não gosto. Mas, por algum motivo, eu senti vontade de escrever este post. 

Quando eu tinha 8 anos eu e minha família nos mudamos de Belém para Goiânia. Nestes quinze anos eu voltei para visitá-los umas nove ou dez vezes. No início, eu e minha irmã íamos todos os anos, mas a frequência foi se perdendo com o tempo.

Cada ocasião, então, passou a se tornar incrível. Tinha a oportunidade de rever meus primos, tios e avós e curtir um pouco da minha cidade natal que, com o tempo, fui aprendendo a redescobrir. Esta parte da minha família, que hoje mora distante, sempre foi um exemplo pra mim de alegria, simplicidade e, principalmente, união.

Como eram sempre tantas coisas para fazer e tanta gente para lidar, eu não consigo me lembrar de ter tido uma conversa realmente profunda com a maioria destas pessoas. 
"Haverão outras oportunidades" ou "não é a prioridade agora" certamente foi a lógica inconsciente que eu usei como base, apesar de não me lembrar ao certo.

Ontem, porém, a minha avó, carinhosamente conhecida por todos como Dona Flor, infelizmente faleceu. Quando soube da notícia, tudo isso veio à tona e várias coisas se passaram pela minha cabeça:
1. Eu não conseguia me lembrar de ter dito 'eu te amo' a ela alguma vez na vida
2. Eu não conseguia me lembrar de uma conversa real que tivemos, que durasse de verdade e me fizesse perder as horas.
3. Eu não conseguia me lembrar da última coisa que eu disse a ela e nem da última coisa que ela me disse.
4. Eu nunca lhe perguntei tantas coisas que eu queria saber: como ela conheceu o meu avô, como era criar 12 filhos, como era ter quase 20 netos, como eram as coisas na sua época de juventude...
Eu percebi que não sabia nada de verdade.

Eu não sei se ela sabia o quanto eu a amava. Mas sim eu a amava. Muito.
Não só por ser minha avó, mas por que era uma pessoa extremamente bondosa, que sempre tratou todo mundo muito bem, que nunca perdeu o bom humor, que encarou com bravura o desafio de criar uma família grande e conseguiu mantê-los unidos, apesar de tudo.
Ela era uma pessoa sensacional e só o que eu queria era ter dito tudo isso a ela.

O pior é saber que um ano atrás, quando perdemos também o nosso avô, exatamente as mesmas coisas passaram pela minha cabeça. Eu poderia ter feito diferente, mas não fiz. E isso hoje faz com que eu me sinta péssimo. Isso me torna um neto ruim? Talvez, mas na verdade eu não quero pensar muito nisso. 
Quero pensar que isto que estou sentindo agora, também representa uma nova oportunidade. Uma nova chance de estar próximo das pessoas que eu amo e aproveitar cada segundo com eles, porque as coisas mudam muito rápido. Quero realmente fazer diferente e perguntar o que eu queria ter perguntado, saber um pouco mais sobre a vida deles e criar uma relação profunda que não seja simples consequência do mesmo sangue correndo nas veias, mas da admiração que eu verdadeiramente sinto por cada uma destas pessoas.

É triste pensar que tal conclusão óbvia só foi possível depois de fatalidades, mas 'antes tarde do que nunca'. É, ao mesmo tempo, irônico que meu livro, Memórias de um adolescente, que escrevi em 2008, tenha justamente esta mensagem: diga eu te amo às pessoas por que não sabemos se haverão outras oportunidades. 

Então, você que está aí lendo este post, pare e pense um pouquinho sobre as pessoas ao seu redor. As pessoas que você ama, admira e espera que esteja ao seu lado para todo o sempre. Pense neles e tente se lembrar da última coisa que você disse a cada um. Isso poderia se sustentar como a última coisa que você lhe diria na vida? Tente lembrar dos abraços sinceros, dos eu te amos e das conversas poderosas.

Se você não foi capaz de se lembrar com clareza, ou não se sente satisfeito com estas lembranças, bem, talvez esteja na hora de fazer uma ligação, chamar para almoçar ou jantar, assistir um filme, dar um abraço e falar palavras de carinho e principalmente, escutar. Uma habilidade tão incrível que nós, os jovens, estamos perdendo muito rapidamente.

Tudo isso é o que eu queria poder fazer agora. Chorei muito pensando nela ontem e realmente espero que, onde quer que esteja, ela consiga sentir todo o amor e carinho que estamos enviando. É um eu te amo atrasado, mas espero que ainda seja válido!

Eu te amo Vovó!

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