[Pecados e Tragédias] #9 - Filhinha do papai (parte 2)
Leia as partes anteriores antes de ler esta. Basta clicar no link a seguir [Pecados e Tragédias] #9 - Filhinha do papai
Medo
E se foi difícil para elas entenderem, só puderam imaginar o quanto seria para os colegas da conservadora escola de medicina. Talvez por isso, nunca comentaram absolutamente nada com ninguém. Fato era que elas tinham medo de um possível preconceito e ainda não sabiam se estavam prontas para enfrenta-lo.
- O que poderá acontecer se descobrirem? – Questionava Emília, que sempre foi a mais medrosa de todas.
Muitas possibilidades passavam pela cabeça das meninas, fruto de expectativas desalinhadas, ou não, que acabavam tornando o mundo imaginário de “O que poderia acontecer” muito mais assustador e macabro do que “O que realmente aconteceria”.
Tinham pesadelos sendo expulsas da faculdade ou apedrejadas nos corredores. Pensavam que os amigos as abandonariam e falariam mal pelas costas, fariam comentários cheios de julgamentos maldosos e deturpariam toda a sua imagem.
Nos piores dias, pensavam que ninguém levaria o filho para se consultar com um médico gay, pelo mesmo motivo dos professores e, então o sonho da pediatria entraria pelo ralo.
Logo, assumiram que o mundo entraria em colapso total, caso alguém soubesse e decidiram manter o segredo absoluto para todos. Passavam pelos corredores roçando os braços e conversando de maneira displicente, como as duas grandes amigas que realmente eram.
Enquanto isso, as pessoas comentavam:
- Será que Ieda e Emília se pegam? Elas estão sempre juntas?
- Acho que sim. Da pra ver como elas se olham e se tocam e etc.
Sorrisos.
- Que bacana! Elas fazem um casal tão bonitinho.
Elas jamais ouviam essas coisas, é claro. Quando imaginavam um cochicho sobre elas, sempre esperavam o pior. Coisa suficiente para uma semana ou mais sem quase nem se olharem em público.
Nos dias normais, andavam pra lá e pra cá como amigas, mas no final do dia elas eram uma da outra. E, quanto mais o tempo passava, mais ia ficando claro que não poderiam continuar fingindo para sempre.
Papai
- Vamos ao cinema? – Perguntava Emília, que sempre foi a mais romântica de todas.
Ieda explicava que se fossem ao cinema, poderiam acabar não resistindo e que era melhor assistir a um filme em casa mesmo.
Esse ambiente de mentiras estava se tornando cada vez mais insustentável. Elas queriam se entregar uma à outra abertamente, mas não conseguiam superar o medo da reação do mundo.
Ieda explicava à namorada por que não podia contar nada ao pai.
- Eu sou a princesinha dele. Sou a superestrela. A favorita. Se eu der essa notícia, ele vai ficar maluco. Não sei do que seria capaz.
Seu Carlos tinha jeitão de peão. Um homem rústico e de movimentos brutos, porém muitíssimo inteligente e até moderno. Sempre tinha uma opinião formada sobre tudo e era do tipo cabeça-dura que não media esforços para justificar o que pensava.
Portanto, era um medo justificável.
E seus infindáveis elogios, não ajudavam muito.
- Minha querida, minha princesinha. Logo estará formada e será uma médica incrível. Tenho muita sorte de ter uma filha boa como você.
Ele saía sorridente e satisfeito enquanto o casal trocava olhares nervosos.
Precisavam dar um jeito naquilo.
Continue lendo em [Pecados e Tragédias] #9 -Filhinha do papai (parte FINAL)
Disponível somente a partir de 11/10/2013 - Sexta-feira - às 16 horas
Comentários
Postar um comentário