[Pecados e Tragédias] #9 - Filhinha do papai (parte FINAL)

PECADOS E TRAGEDIAS

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Juntas

Quanto mais o tempo passava, mais a pressão que elas se impunham se tornava insuportável. Elas não aguentavam mais ter que viver escondidas e queriam fazer algo a respeito, mesmo sem ter a coragem necessária.
Chegavam a brincar que eram como Romeu e Julieta do século 21, mas que neste caso seria Montecchios e Capuletos contra o casal abaixonado.
- O que faremos, Iedinha? – Perguntava Emília, que sempre era a mais irresoluta de todas.
Ieda pensava e pensava, mas nunca chegava a uma conclusão.
Elas queriam poder sair na rua de mãos dadas e se beijar no cinema sem que ninguém as olhasse de maneira diferente. Queriam ser livres pra se casar e adotar um par de menininhas.
Foi de Ieda a grande ideia. Ela chegou apressada e confiante na casa da amiga-amante e falou prontamente:
- Vamos embora!
A menina não entendia o que aquilo queria dizer e fez cara de quem precisa ouvir mais:
- Vamos embora daqui, Emília. Vamos pra São Francisco viver nossa vida juntas. Lá com certeza, a vida será diferente.
E então explicou um complicado plano onde dariam várias desculpas esfarrapadas a uma grande variedade de pessoas, pegariam um avião e atravessariam o planeta de sul a norte para viverem sozinhas uma vida de ‘paz’.
Não era o plano mais genial de todos.
- Mas, que tal se a gente ficar e falar a verdade? Talvez isso nem seja necessário. Eu gosto daqui, e não quero ficar longe da minha família, nem dos meus amigos – Dizia Emília que, no final, sempre era a mais sensata de todas.
Ieda tratava de refutar, com a intransigência que herdou do pai:
- Eles só te querem aqui por que não sabem quem você é de verdade. Se falarmos eles vão nos expulsar de casa do mesmo jeito, então só estamos adiantando as coisas. Pense em nós e em tudo o que poderíamos viver juntas.
Relutante, Emília concordou, e em alguns meses, já estavam embarcando para sua nova vida juntas.

Princesa

- Tem tido notícia das crianças? – Perguntou Roberto, pai de Emília, a Seu Carlos.
- Ah sim, a gente conversa por Whatsapp às vezes.
Roberto fez cara de quem não sabia o que era aquilo. O amigo riu e continuaram a conversa:
- Ela está excelente. Está adorando a nova vida com a Emília. São meninas de ouro, as duas.
O amigo concordava sorridente e pedia mais.
- É incrível como elas conseguem tomar conta da própria vida e buscar a sua felicidade acima de tudo.
O ouvinte acenou mais uma vez para que continuasse.
- Tenho tanto orgulho da minha princesa.
- Eu também – Dizia Roberto com os olhos brilhando, decidindo finalmente fazer parte da conversa – Só queria saber quando terão coragem de nos contar que são lésbicas.
Seu Carlos riu alto.
- Ah, não deve demorar muito mais. Já faz quase dois anos que elas tentam esconder. Já não sei mais o que fazer para deixa-las confortáveis.
- Fique tranquilo – Dizia o amigo – Quando elas acharem que é a hora, contarão.
E eles passaram a tarde toda falando de como suas filhinhas eram incríveis.
A verdade é que demorou muito mais. Emília e Ieda perceberam que mesmo na cidade mais gay do mundo elas não conseguiam se soltar e ainda evitavam andar de mãos dadas e se beijar em público.
Quando finalmente resolveram que era a hora de voltar e falar a verdade, Seu Carlos já estava a sete palmos do chão.

Fim



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