[Pecados e Tragédias] #10 - Espelho, espelho meu (parte 2)
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Na saúde e na doença
Quando finalmente começou a estagiar como instrutor naquela mesma academia, Jota se sentiu realizado. Agora quase não teria motivos para voltar para casa que, na realidade, só serviria para dormir.
Um dia, perto de se formar e já com seus 45 centímetros de braço, ele começou a sentir uma febre muito alta, dor na cabeça e um cansaço descomunal. Resolveu que iria ao médico depois do ‘trabalho’.
- Dengue – Disse o especialista.
E a instrução foi clara: paracetamol, dipirona, repouso e muitos líquidos saudáveis.
- E posso continuar malhando?
O médico riu:
- Até que você se sinta melhor, não. Fique pelo menos sete dias em casa.
Jota ficou arrasado. Como viveria sete dias inteiros sem academia? Não seria possível. Ele precisava dar um jeito.
Construiu um kit-dengue-móvel e partiu para a sua segunda casa. Obviamente não deixaram que ele fizesse nenhum exercício físico, mas só de estar ali observando todas aquelas pessoas indo e vindo, suando enquanto suas veias saltavam o couro, já o satisfazia.
Repousou cinco dias naquela cadeira azul que ficava no cantinho.
Levados
Jota se formou em educação física com louvor. Logo, se tornou professor oficial da academia em que trabalhava e treinava há tantos anos.
Nunca estivera tão feliz em toda a sua vida. A família, então, perguntava:
- Você vai seguir na academia? – E nesse caso se referiam ao seu futuro profissional.
A resposta positiva os fazia hesitar e soltar, aos poucos, a verdadeira pergunta que queriam fazer:
- Achamos que você se tornaria professor em escola. Lembra-se do seu sonho de ajudar as crianças?
Ele lembrava sim, e muito bem. Desconversava e mudava de assunto. A questão principal em sua mente era: pra quê mudar se ele já estava tão feliz ali? Não parecia muito lógico.
E ainda existiam tantos centímetros a percorrer até que atingisse sua meta de 56 centímetros, como seu grande ídolo Arnold Schwarzenegger.
No final das contas, ele nem chegou a precisar escolher entre escola ou academia. Era domingo, seu dia favorito para treinar, e ele ia, como sempre, em seu carro.
Jota não consegue se lembrar muito bem de como tudo aconteceu: fato era que de repente teve consciência de que estava envolvido em um acidente de carro gravíssimo. Carros voando, corpos, vidro e escuridão.
Quando finalmente acordou, no hospital, sabe-se lá quanto tempo depois, ele tentou mexer seus braços para coçar o seu nariz, que, naquele momento, o incomodava bastante.
Por algum motivo, não conseguiu. Então olhou para baixo para ver se havia algo de errado com seus queridos companheiros. Ao baixar os olhos, ele percebeu: sob seus ombros, não havia mais nada.
Disponível somente a partir de 17/10/2013 - Sexta-feira - às 16 horas
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