[Pecados e Tragédias] #6 - Homem de palavra (Parte 1)


PECADOS E TRAGEDIAS



Feitosa amava Fernanda como poucas vezes já se viu. Um amor verdadeiro e puro que, por ser tão bom e genuíno, era também correspondido.
Conheceram-se na escola e desde o primeiro dia já sabiam que ficariam juntos para sempre. Casaram-se antes de se formarem e ostentavam uma felicidade de dar inveja.
Eram, às vistas de todos, o casal perfeito.
Na intimidade, porém, tinham suas inseguranças e ciúmes, comuns em qualquer relacionamento. Apesar de serem grandes amigos, confidentes e falarem de tudo um com o outro, haviam regras do relacionamento que não podiam nunca serem quebradas.
Feitosa anunciava:
- Você pode fazer o que quiser, Fernanda, não ligo. Podemos visitar sua mãe com frequência, paro de beber ou fumar se assim for sua vontade, deixo você escolher o nome do nosso filho e até troco o futebol pela novela. Mas nunca, jamais, em toda a sua vida, me traía, compreendeu bem?
Fernanda afastava tais pensamentos da cabeça de seu amado marido:
- Isso jamais irá acontecer, meu amor. Só preciso de você e de mais ninguém.
Ele, então, satisfeito, completava:
- Certo. Pois fique sabendo que se um dia eu souber que me traíste, te enfio uma bala entre olhos ok?
Ela concordava sem saber muito bem o que aquilo poderia significar.
- Você sabe que sou homem de palavra, não sabe?
Mais uma vez Fernanda balançava a cabeça em confirmação. Ela só queria acabar com a conversa e transar como faziam sempre após aquela rotineira ameaça.
E assim, seguiam felizes.

Morte

Mas a vida nem sempre presenteia com flores os plantadores de semente. E alguns anos após o casamento, em um acidente de carro, Fernanda morreu.
- Não acredito – Diziam todos os amigos do casal – E agora? O que fará Feitosa sem sua amada?
Outros lamentavam pela falecida:
- Tão jovem, para uma morte tão trágica.
Nenhum deles, contudo, estava tão triste quanto o seu fiel marido. Chorava como uma criança e ninguém conseguia consolá-lo.
Passados os procedimentos de morte legais, em algumas semanas a maioria já seguia normalmente com suas vidas. Todos menos Feitosa que permanecia de preto.
- Ela era pura como água – Dizia aos amigos vivos – Nunca me traiu em toda a sua vida. Se tivesse feito, eu enfiaria uma bala entre seus olhos. Mas sempre foi fiel e era uma excelente esposa. E seria uma excelente mãe, se tivéssemos tido filhos.
Todos concordavam, respeitando sua dor.
Porém, quando ele voltava para sofrer sozinho em sua residência, as más línguas se expunham e o veneno escorria por elas:
- Se ela não o traía, o que fazia de carro tão longe de casa?

Leia a parte 2 em [Pecados e Tragédias] #6 - Homem de palavra (Parte 2) 

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