[Pecados e Tragédias] #4 - O pegador (Parte 1)
Dado sempre foi o que todos
chamavam de “pegador”. Na escola, colecionava virgindades alheias e podia-se
contar nos dedos o número de meninas que não haviam ficado com ele.
Os colegas de classe admiravam
esta habilidade:
- Mas, como você consegue? –
Perguntavam as pessoas sem entender por que todas as meninas simplesmente
cediam aos seus encantos.
- Nasci com sorte – Era a
resposta.
Ele ria e se gabava, sem a menor
restrição, de tudo o que fazia com cada uma delas, expondo até os mais íntimos
detalhes de cada uma.
Mesmo as meninas que mais se
incomodavam com o status que Dado emanava do seu corpo, acabavam se rendendo.
- Ele é incrível – Diziam.
Elas, claro, nunca sabiam que no
final acabariam tendo todos os seus segredos revelados para a ala masculina da
turma.
Assim foi e continuou mesmo após
sua entrada na faculdade. Ele não parava nunca.
Este grande sucesso, é claro, ao
longo do tempo foi acumulando um ego maior do que Dado era capaz de controlar. E
mesmo com tudo isso, nunca, nem uma vez sequer, ele tinha namorado alguém.
- Não sou homem de uma mulher só
– Dizia ele, arrastando discípulos – Namoro é perda de tempo.
Seguindo essa linha de
raciocínio, ele permaneceu pouco mais de vinte anos de vida solteiro.
E se orgulhava disso.
Anastácia
“Foi quando conheceu uma menina
e de todos seus pecados ele se arrependeu”. Por obra do destino era este o
trecho de Faroeste Caboclo que tocava em seu fone de ouvido quando Anastácia
apareceu de súbito.
- Posso me sentar aqui? – Disse ela
com um sorriso.
Era linda de doer os olhos.
Morena, olhos castanhos, lábios de tirar o fôlego, um sorriso estonteante,
curvas bem definidas e volume. Muito volume.
- É claro – Respondeu sem
desviar o olhar.
Trocaram meia dúzia de sorrisos
e expressões, só compreendidos pelos fluentes na linguagem da sedução.
“E conversaram muito mesmo pra tentar se
conhecer”. Foi aí que decidiu que a playlist do Legião Urbana não ajudava muito
naquele momento. Desligou o som e partiu para o ataque.
Horas depois, era para os amigos
que contava a novidade.
- Conheci uma menina hoje.
Anastácia é o seu nome.
Todos
se entreolharam preocupados, talvez céticos.
-
Anastácia da Enfermagem? – Perguntaram em uníssono mental.
Dado
confirmou parecendo em outro mundo. Nova troca de olhares.
-
Quero me casar com essa mulher. Ela é fantástica. – Disse, parecendo ainda mais
bobo.
-
Acho que ela não é para seu bico, Dado – Disse um deles sem pestanejar.
Ele
riu alto e prepotente.
-
Impossível – Respondeu – Todas são para o meu bico.
-
Não Anastácia – Lembrava outro.
E
a aparente falta de crédito que davam a ele, parecia entretê-lo. Viu aí uma
oportunidade mágica.
-
Quer apostar?
Os
amigos se entreolharam e tentaram decidir se o melhor era alertá-lo sobre ela
ou deixa-lo descobrir por conta própria. A prepotência de Dado era tão grande
que eles optaram pela segunda opção.
-
Cinquentinha – Disse André, o amigo, com um sorriso.
-
Feito!
Continua em [Pecados e Tragédias] #4 - O pegador (Parte 2)
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