[Seja escritor] #6 - A coerência dos livros

Logo que comecei a falar sobre ser escritor, eu publiquei um artigo falando sobre como, de fato, passar sua ideia para o papel, transformando-o em um livro.
Você pode ler ele aqui: [Seja escritor] #2 - Tirando uma história da cabeça
Nele, eu trouxe a importância de você se preparar muito bem: dominar a língua e conhecer as ferramentas que nosso idioma nos proporciona.

E tão importante quanto isso é prestar a atenção na coerência entre a mensagem/história e a forma como ela está sendo passada ao leitor. Esta coerência deve ser observada na resposta a três simples perguntas:

1. Sobre o que é o seu livro?
Todo livro tem um tema central, por mais que ele esteja rodeado de vários outros temas secundários. Em "Memórias de um adolescente", por exemplo, o tema central é a adolescência e as indecisões que se tem nesta fase da vida.

No livro eu trabalho o tema das drogas, relações interpessoais, família e outros igualmente polêmicos que dão abertura a várias discussões, porém, tudo sempre está relacionado às indecisões da adolescência.

Mas por que isso é importante? Simples, se você começa a atirar para todos os lados simplesmente, sem ter a intenção de fazer isso, pode ser que a leitura fique chata. O leitor pode se sentir dando voltas e voltas e sem sair do lugar.

2. Quem vai ler o seu livro?
Saber pra quem você está escrevendo é bem importante para saber o que escrever, como escrever e de que forma aquilo vai ser entendido pelos seus leitores.

Não dá para prever tudo, é óbvio, mas da para se ter uma boa ideia de que crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos tem visões de mundo diferentes e carregam experiências diversas ao longo da vida. Sabendo disso, é possível entender que tipos de interpretações poderão ser feitas.

Existem aqueles autores que escrevem livros para um público, mas que tem diferentes significados aos outros públicos. 
Os exemplos mais clássicos disso são "O pequeno príncipe", de Antoine de Saint-Exupery e "As crônicas de Nárnia" de C.S. Lewis, que ganham novas interpretações a cada releitura, conforme passam os anos.
O tema do livro também ganha uma nova roupagem, dependendo do seu público, afinal, falar de 'amor' para crianças é diferente de falar de 'amor' para adultos.

3. Qual a relevância do seu livro?
Por fim, qual a conclusão disso tudo? Livros existem para contar uma história para o mundo e esta história precisa ter um objetivo (mesmo que este objetivo seja puro entretenimento).
Em outras palavras o que o mundo ganha tendo o seu livro circulando? 

Você busca: pessoas melhores? Pessoas mais conscientes sobre determinado tema? Pessoas com a imaginação mais fértil? Pessoas mais felizes por terem lido algo engraçado? Pessoas que acreditam no amor? Pessoas que acreditam na bondade do mundo? Pessoas que tem ciência de que o mundo não é um conto de fadas?

Independente do que seja, isso vai acabar permeando todo o seu livro, ou todos os seus livros, uma vez que o propósito da obra pode ter um pouco de propósito pessoal do autor.
Ter consciência deste propósito te ajuda a ser mais coerente e a ser digno de releituras. Você já leu um livro e sentiu que sua vida mudou por causa dele?


É importante, entretanto, lembrar-se mais uma vez de que não existe receita de bolo para escrever livros. Portanto, você pode não ter coerência nenhuma e este ser justamente o diferencial que fará do livro um obra excelente.
Mas se for optar pela incoerência, faça isso de maneira consciente, sabendo exatamente o que pretende com aquilo.

No final das contas, o que vale principalmente é você ter alinhados o tema, o público e o propósito para construir uma obra redondinha.
Consegue identificar os três pilares nas suas obras favoritas?

E tudo isso também entra na arte de contar histórias, tema que trabalhei no post [Seja escritor] #4 - Contando uma história

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