[Pecados e Tragédias] #2 - Meninas? Não! (Parte 1)
Bento era, dentre todos os meninos do bairro, sem dúvida, o mais bonito. Desde os seus cinco anos era possível ouvir as mulheres comentarem:
- Este quando
crescer vai dar muito trabalho.
E não era para
menos. Seu pai era alto e moreno, que ostentava um ar altamente masculino que
atraía mulheres até pelo cheiro. Já a mãe, era loira e bem definida, toda
trabalhada nos exercícios físicos, que garantia a ela um corpo escultural
percebido a quilômetros. A irmã, dois anos mais velha, possuía uma beleza
estonteante e a cada ano que passava arrancava mais suspiros de jovenzinhos
desavisados e deixava corações destroçados por onde passasse.
A beleza da
família, entretanto, chegou ao seu ápice em Bento e absolutamente todos
concordavam com isso.
O pai era, de
longe, o que mais se orgulhava de ver sua despojada e bela criança crescer e se
tornar cada vez mais o homem que um dia o sucederia na liderança da casa e dos
negócios da família.
- Não vejo a hora
de vê-lo grande – dizia orgulhoso e feliz – um homem que com certeza terá todas
as mulheres a seus pés.
O destino
E quando o tempo
passou, as previsões de seus pais se tornaram reais.
Aos quinze anos,
Bento parecia um príncipe e, por onde andasse, atraía olhares. E como se não
bastasse, tinha uma particular facilidade em conversar e seduzir as mulheres.
As tias
solteironas lutavam para esconder o rubor a cada elogio recebido e se continham,
inquietas, sob suas fantasias cheias de volúpia.
Na escola,
tornara-se rotina os comentários indiscretos, em banheiros femininos, sobre as
angelicais qualidades do garoto:
- Ele é um gato.
- Acho que ele
está querendo ficar comigo.
- Claro que não,
é a mim que ele quer.
Todas queriam ser
a primeira namorada de Bento, mas poucas de fato se sentiam boas o suficiente
para isso.
E em toda a
cidade não se via pessoa mais feliz que o Ricardo, o pai do menino.
- O destino foi
realmente generoso com ele – Comentava com os amigos – E não há dúvidas de que
as mulheres chovem a sua volta.
Os outros,
entretanto, apresentavam certa desconfiança, e, por que não, um certo veneno:
- Não sei, não–
Disse um deles – Com quinze anos até hoje não arranjou nenhuma namorada. Deve
haver algo errado aí.
- Talvez ele não
queira uma namorada – Complementava outro, com sorriso cheio de malícia –
Talvez se interesse só por meninos.
Ricardo escondia
sua preocupação com um sorriso displicente:
- Parem de ser
invejosos. Ele só tem um padrão alto demais para as meninas da idade.
E se forçava a
acreditar nisso.
Leia a parte 2 em [Pecados e Tragédias] #2 - Meninas? Não! (Parte 2)
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