[Pecados e Tragédias] #1 - A melhor (Parte 1)



Quando pequena, a menina adorava ser o centro das atenções. Era só alguma criança fazer algo que arrancasse aplausos, para que Anita surgisse ainda mais surpreendente. Não bastava ser boa, tinha que ser sempre a melhor.
           A família achava graça:
            - Que linda! – Exclamava a mãe, Joana, quando via uma cena assim.
            - Essa menina vai longe – Dizia Antônio, o pai , todo orgulhoso – Não aceita ser deixada para trás.
            Incentivada, ela agradava a todos para acumular amigos por que queria ser a garota com maior volume de amigos de toda a escola.
            Suas tias não eram assim tão complacentes. Diziam sempre:
            - Ora criança, pois preste atenção: o importante não é vencer, mas dar o seu melhor.
            Anita então partia sem nada dizer, deixando somente um sorriso para trás.
            - Devem ter inveja – diziam os pais.
            Um dia presenteou uma menina da escola com um lápis novo, incrível, com borracha na ponta e vários desenhos bem legais.
- Meu Deus, obrigada – Disse a menina, surpresa.
- Agora diga – começou com um sorriso - Existe melhor amiga do que eu?

A adolescência

            E assim os anos foram passando e a mania de sempre ser a melhor em tudo continuava.
            Quando fez quatorze anos, uma das meninas de sua classe tirou nota 9,5 em matemática. A maior nota dentre todas.
            - Oh meu deus, como você fez isso – diziam as amigas.
            - Você é tão inteligente.
            No mês seguinte não se via Anita em nenhum lugar. Estudava dia e noite.
            Na próxima ocasião, recebeu sua prova com um redondo 10 que exibiu para todos sem pestanejar.
            - Respondam agora, existe pessoa mais inteligente do que eu?
            Dois anos depois os assuntos mudavam, mas seu instinto competitivo permanecia. Uma delas compartilhou um segredo:
            - Ontem eu transei pela primeira vez.
            Todas ouviram com atenção e faziam várias perguntas. Era a única de todas que tinha feito aquilo.
            Espumando Anita voltou para casa e arquitetou seu plano. Na semana seguinte, trazia a notícia:
            - Eu já transei duas vezes.
            E novamente voltava a receber a atenção que precisava.
            Em suas costas, as amigas brincavam:
            - Agora respondam: Existe alguém mais piranha do que ela?
            E riam-se de se acabar.


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