[Pecados e Tragédias] #6 - Homem de palavra (Parte FINAL)

 
Leia a parte 1 em [Pecados e Tragédias] #6 - Homem de palavra (Parte 1) 
Leia a parte 2 em [Pecados e Tragédias] #6 - Homem de palavra (Parte 2) 


Apolo

Feitosa não entendia por que Fernanda tinha o número de um deus grego no seu celular. Era esse o único nome da lista que ele de fato desconhecia.
Resolveu contata-lo usando uma desculpa qualquer e se encontraram em um lugar igualmente sem importância.
Mas ao se verem, o garotão de vinte anos e cheio de músculos o reconheceu:
- Você é Feitosa, não é? Marido de Fernanda?
Ele assentiu.
- Como sabe?
Apolo então sorriu e virou seus olhos. Contar ou não contar? Pensou.
- A primeira opção – Disse Feitosa após ler seus pensamentos.
O moleque crescido sabia que era imprudente, mas a impetuosidade dos jovens o impeliu:
- Sua mulher me mostrou suas fotos, para o caso de algum dia eu te ver na rua.
Os olhos do viúvo se arregalaram de surpresa.
- E por que ela faria isso? – Perguntou sem querer saber a resposta.
Com um sorriso, o deus grego do sol e da música cantou a verdade:
- Para o caso de você querer vir me matar.
- E por que eu iria querer fazer isso?
Ele então se posicionou de modo a permitir uma rápida fuga:
- Por que nos encontrávamos todos os domingos para transar como coelhos.
- Ora seu...
Mas o moleque já partira correndo de volta para o olimpo, rindo como um bêbado.

Homem de palavra

Feitosa não podia acreditar que Fernanda o traía. Ele estava desolado.
Pediu uma dose tripla de seu whisky favorito e o virou, para logo em seguida pedir mais uma.
- Vá com calma, rapaz. – Disse o barman – Qualquer problema que você tenha não será resolvido dessa forma.
Ele balançava a cabeça, entristecido.
- Minha linda mulher me traiu.
O homem, que acostumara-se a ouvir tais declarações, o aconselhou:
- Converse com ela, resolvam as coisas.
- Não dá para conversar com ela...
Ele parecia compreender:
- Mulheres são difíceis mesmo. Ainda mais as bonitas.
Feitosa declarou então:
- Prometi que a mataria se ela me traísse, mas não posso.
- Você ainda a ama não é? – Perguntou sabiamente seu novo amigo
- Não é isso. Ela está morta. Não posso mata-la por que ela já está morta. Isso é tão injusto.
E recomeçava a chorar.
Então um súbito sentimento veio à sua cabeça.
- Mas quer saber. Há uma solução!
Feitosa pagou a conta e foi para a sua casa, pegar a arma que tinha escondida. Tinha seu destino bem definido.
Invadiu de mansinho aquele lugar enorme e encontrou o que procurava. Cavou, cavou, cavou até chegar ao caixão de sua amada falecida.
- Eu disse que era um homem de palavra.
Enfiou uma bala bem no meio dos olhos do cadáver e mais um, pouco acima de sua própria orelha, para que viúvo e falecida pudessem ficar juntos novamente em seu amado berço de madeira.

FIM

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