[Entrevista] #4 - Fernanda Assis (Viagem Literária)

Nessa semana nossa entrevistada é a mineiríssima Fernanda Assis, criadora de um dos mais relevantes blogs literários do país, o "Viagem Literária".
Sob o slogan de "Todos os livros do mundo", ela está perto de ler o seu milésimo livro (WoW), de acordo com informações quentíssimas do Skoob.

Impressionante, não é? A três anos o blog supera a marca dos 400 posts anuais e já acumula mais de 8mil seguidores no Google Friend Connect. Números incríveis que a faz, hoje, ter de recusar propostas de parceria feitas por editoras, tal o volume de livros que tem para ler.

Ela revela, de uma maneira quase despretensiosa, como a paixão pelo que faz é o catalisador principal de qualquer trabalho de sucesso. A FerNanda ainda revela o que faz um livro ganhar seu conceito máximo. Não é incrível?

Então chega de conversa e vamos para a entrevista, que está absolutamente sensacional:

1.    Por que decidiu fazer um blog literário?
Viagem LiteráriaDesde que me formei em Biblioteconomia, eu sempre quis trabalhar com incentivo a leitura, mas acabei indo trabalhar na área gerencial de uma autarquia federal e não em uma biblioteca. Por outro lado sempre adorei os livros de ficção, e acabou surgindo a ideia de falar dos livros lidos em um blog, para estimular novas pessoas a ler, principalmente o público jovem.

2.    O Viagem Literária, está entre os maiores blogs literários do Brasil. Como foi a trajetória do blog? Quais foram os principais marcos e dificuldades que teve de enfrentar ao longo do caminho?
Está? Hoje em dia nem sei mais, mas fico feliz então hehe.
No começo eu não me preocupava muito, eu só lia os livros e escrevia sobre eles, postava quando sobrava um tempinho. Depois comecei a levar mais a serio, comprei o layout e investi mais tempo nas leituras. Com isso, no início de 2010 surgiram naturalmente as Editoras oferecendo parcerias, foi assim que começou a crescer. Na época este processo era simples, as Editoras que procuravam os blogueiros e existiam bem poucos sites, era como uma grande família. Hoje já perdi a noção de quantos blogs literários existem, uns 3000? Não faço ideia. Em quatro anos muita coisa acontece, já tive alguns problemas com autores nacionais que não aceitam resenhas negativas; para evitar estresse não pego mais livros diretamente com o autor, só com a Editora. Atualmente a maior dificuldade é o grande número de sites, muitos com qualidades duvidosas. Veja bem, não tenho problema com blogs novos, acho ótimo, meu problema é com blogs ruins rs.

3.    Muitos blogueiros literários acabam passando para o outro lado e escrevendo livros também. Você tem essa pretensão?
Não como um projeto. Já pensei no assunto, mas nunca surgiu a historia ideal na minha cabeça, então não chegou a ir para o papel. Quem sabe um dia...

4.    Em um de seus posts na coluna “Viaje comigo” você revelou ler cerca de 3 livros por semana. Em sua página no Skoob, são quase 900 livros lidos e mais de 250 na fila. Como faz para gerenciar uma lista tão grande assim?
A lista é uma loucura, não tem gerenciamento e eu surto completamente hehe. Eu tento priorizar as parcerias, mas mesmo assim a lista só aumenta, acho que nunca vou dar conta dela. Cancelei algumas parcerias do blog para tentar ler também os livros que eu compro, mas até agora não adiantou nada na verdade... Enfim, eu leio em todo meu tempo livre, no ônibus indo e voltando do serviço (trânsito horrível de BH), no horário de almoço, em casa a noite alternando com minhas aulas de inglês e outras atividades, bastante no final de semana durante o dia. Costumo alternar estilos mais leves – como livros YA que leio rapidamente em um dia – com livros mais pesados onde a leitura é mais demorada.
Mesmo lendo 3 ou 4 por semana eu ainda fico completamente surtada com a fila de espera, agora ela já passou de 300. :P
Com isso, o Viagem Literária tem hoje mais de 600 livros resenhados por mim. Além das resenhas tenho também dois colunistas, a Kellen Baesso, que fala sobre Séries de TV e o Yago Dalben, que tem quatro colunas diferentes que saem semanalmente

5.    Quais são seus gêneros literários favoritos? Dentro disso, quais são os autores que mais te inspiram?
Eu leio de tudo, quem acompanha o blog sabe bem disso. Acho que só não curto autoajuda e romance espírita. Apesar de alternar sempre os estilos, ultimamente tenho tido uma queda por ficção policial e lido muito deste gênero. Gosto também de drama, YA, chick-lit, fantasia, romance épico e histórico. Bom, quase tudo.
Poxa, pedir para escolher entre todos é uma missão difícil, vou citar os que nunca saem da cabeça: J K Rowling sempre, Diana Gabaldon, George R R Martin, Tess Gerritsen, Harlan Coben, Rick Riordan, Sophie Kinsella, Marian Keyes, Paula Pimenta, Raphael Draccon, Patrick Rothfuss, Stieg Larsson, Richelle Mead e por ai vai...

6.    Existem campanhas muito fortes na internet para incentivo a literatura nacional, a maioria, entretanto, é liderada pelos próprios leitores e blogueiros. O que você acha que falta para a literatura nacional dar uma guinada e de fato se consolidar nas estantes dos jovens?
Falta investimento, as Editoras não apostam tanto nos livros nacionais e eles acabam no fundo das livrarias, com poucas exceções de autores que realmente se sobressaíram neste meio. Por outro lado, acho que falta também ao autores que estão começando investir mais em sua obra antes da publicação. Sei das dificuldades com revisão e todo o processo, mas muitos livros são publicados sem estarem prontos para isso, o que acaba criando esta rejeição dos leitores e esta lenda de que literatura estrangeira é melhor.
Acredito ainda que as leituras obrigatórias de Escola pesam muito na escolha, eu defendo que qualquer leitura é válida, desde que estimule a criança a gostar de ler. Lembro que li na sétima série acho (sou da época onde ainda íamos da quinta a oitava série...releve) Dom Casmurro, e até hoje não consegui ler mais nada do Machado de Assis, trauma. Dom Casmurro é ótimo, não para crianças eu imagino. E ai que você cresce achando tudo um porre, até que descobre um Harry Potter da vida e se apaixona. E qual a lembrança que você tem dos nacionais? Eu li muita série Vaga-lume, por exemplo, e amava, mas muita gente para nas leituras “chatas” da escola.

7.    Com a entrada da Amazon no Brasil, os e-books estão se tornando cada vez mais populares, porém, ainda encontram certa resistência em nosso país. Quais são, em sua opinião, os próximos passos necessários para mercado brasileiro absorver esta tendência? Você é adepta dos livros virtuais?
Perguntou para a pessoa errada, porque eu li meu primeiro e-book este mês rs. Na verdade foram dois contos, Sal e O casamento. Eu ainda não me acostumei, tenho 900 livros na estante e gosto deles ali, bonitinhos. Gosto do livro na mão, do cheiro de livro, de folhear, de guardar para sempre na coleção. Ainda torço a cara para e-book, mas estou tentando mudar.

8.    Como bibliotecária e blogueira, você está bastante por dentro do mundo literário. Quais são, em sua opinião, as principais tendências que vão moldar o futuro da literatura no Brasil?
Eu acredito que o mercado continue crescendo, a cada dia mais jovens começam a se apaixonar pela leitura e as vendas e tiragem das Editoras nacionais tem crescido.  Quanto às tendências de lançamento não sei dizer, a cada hora pipoca um sucesso estrondoso e saem vários livros do mesmo estilo. Foi a modinha do romance sobrenatural, depois veio distopia, agora é a vez dos New Adult, não sei qual a próxima a estourar. Outra coisa que percebo é que as Editoras têm lançado muitos títulos diferentes, é muita coisa nova todo mês. Eu fico curiosa para saber se isso continua neste ritmo, se os leitores vão continuar comprando para absorver todos os lançamentos.

9.    As editoras têm investido bastante em parcerias com blogs para promover as obras de seus autores. Isso também incentivou o boom de blogs literários no país. Qual você acha que é o impacto deste movimento para o Brasil?
Até comentei sobre isso em uma das perguntas anteriores, tem seu lado positivo e negativo. Negativo como eu já disse, inúmero blogs que são feitos com o único intuito de ganhar livros, aqueles que até acham lindo ter um blog literário, mas não se preocupam em revisar uma resenha, em melhorar o português. Vejo tanto erro de português absurdo por aí que fico até assustada. Acredito que tanto site atrapalhe quem faz realmente um bom trabalho, mas com o tempo isso vai mudar; até porque as Editoras estão diminuindo parceiros e sendo mais exigente com os blogs escolhidos.
O lado positivo é o incentivo para novos leitores e autores. Vejo muito autor nacional que estourou no mercado, como o Eduardo Spohr, mas que começou a ser conhecido através dos sites literários e redes sociais. A cada dia mais pessoas se apaixonam pela leitura, e o crescimento do mercado sem dúvida tem influência dos blogs literários.

10.    Preço dos livros: Qual foi o livro mais caro e mais barato que comprou? O que costuma fazer para tentar comprar cada vez mais gastando cada vez menos?
Minha memória é péssima para isso, imagino que os mais caros tenham sido os da Diana Gabaldon, série que eu amo. O mais barato? Comprei Gêneses agora na Bienal do Rio por R$ 2,00, vários por R$ 5,00 ou R$ 10,00. Normalmente eu espero os bons descontos progressivos dos sites online, e sempre pesquiso pelo Buscapé onde o livro está mais barato, tento deixar juntar alguns para comprar com frete grátis.

11.    O que faz uma obra ganhar as 5 estrelinhas no Viagem Literária? Que dicas você dá para os que querem começar a escrever um livro, com base na sua vasta experiência como leitora?
Varia muito de acordo com o gênero, mas basicamente a historia precisa ter ótimos personagens, uma trama bem amarrada, um enredo que surpreenda em algum ponto, um casal – caso tenha algum romance – que tenha química e que funcione bem junto, uma boa escrita, um final emocionante e/ou surpreendente.
Como produto final acredito que a obra precisa ser muito bem revisada, lida e relida a procura de furos, e que o autor deva ter alguns leitores “beta” para que procurem estes erros e apontem as falhas. A trama e os personagens precisam ser bons, precisam conquistar os leitores, mas também não podem ser muito estereotipados – quantas Bellas você já viu por ai?! E, o que cada dia fica mais difícil, o livro preciso ter algo que o destaque, que surpreenda o público almejado.

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