[Seja escritor] #3 - Criando a história


Em todos os meios onde me apresento como 'escritor' surge uma pergunta bastante recorrente: "De onde você tirou tanta ideia para escrever um livro?". "Como conseguiu amarrar todos os fatos sem se perder?"

Bom, eu utilizo um esquema de 4 passos simples, capaz de transformar qualquer ideiazinha em uma ideiazona.

Passo 1: O contexto
A primeira coisa a se perguntar é: em que ambiente e contexto se passa a sua história?
Isso é importante para moldar o comportamento das pessoas em geral e dos seus personagens. Muitas vezes isso influencia até no desenlace da história.
Exemplo: Quero escolher uma escola em uma cidade pequena;

  • Como as pessoas de cidade pequena agem?
  • Como as crianças que ainda estão na escola interagem?
  • Que tipos de diferenciais isso pode trazer para história?
  • Que elementos únicos este ambiente agrega?


Passo 2: Perguntar "E se..."
Dentro do seu contexto, você coloca o gatilho para tudo o que vai acontecer na sua história, perguntando um "e se" e jogando situações que possam desencadear outras.
Exemplo: "E se um dos estudantes simplesmente desaparecesse do dia pra noite sem que a família, amigos ou qualquer outra pessoa soubesse"
O que poderia acontecer:
  • Os amigos poderiam tentar encontrá-lo ou não se importar
  • A polícia poderia ajudar ou não tentar encobrir
  • A família poderia se importar ou fingir que não é nada
  • As pessoas poderiam lidar com isso com indiferença ou com um estardalhaço
  • Poderiam haver outras pessoas envolvidas ou não
Para cada escolha, novos desdobramentos surgem:
Se os amigos tentam encontrá-lo, então terão que começar por alguma coisa. Que coisa? Talvez por alguma pista ou comportamento estranho gerado em algum outro momento. Que pista? Que comportamento estranho? Quando isso surgiu?

De repente, em cada um dos caminhos que você escolhe para as consequências deste "e se" você cria uma linha totalmente nova para um personagem ou para a história em si, que você podem ir sendo desvendados ao longo da história.

Passo 3: Perguntar "Como?"
Como este gatilho é ativado? No nosso exemplo, "Como este jovem desapareceu?".
Aqui é onde em geral se escondem as tramas mais cabeludas.

  • Ele pode ter fugido
  • Ele pode ter sido sequestrado
  • Ele pode ter morrido
  • Ele pode estar escondido dentro da própria casa
  • Ele pode ter sido abduzido por aliens

Mais uma vez, para cada escolha surgem vários desdobramentos. Se ele fugiu, pra onde, por quê, o que fez, como fez, com quem...
Quanto mais detalhada for a resposta, mais rica será a história.

Passo 4: Consequências

E aí vem a parte mais importante: E aí? O que acontece então? Quais são as consequências de tudo isso que aconteceu.
Qual o desfecho da história e de que forma isso impactou todas as pessoas ao redor.

De repente, aquele insight que você teve se tornou uma história complexa cheia de ramificações, com personagens bem trabalhados.
Com este exercício, você constrói um resumo da sua história em ordem cronológica, que vai te ajudar depois a transformá-lo de fato no livro.
Você pode repetir esse processo quantas vezes quiser e, cada vez que fizer, mais complexa ficará sua história.

Exemplo: "Enquanto os amigos procuram o desaparecido, e se um outro amigo desaparece" "E se ele fosse visto em algum lugar suspeito"
Novos desdobramentos surgem e por aí vai.


Na hora de escrever você pode definir qual dos passos será o grande diferencial da história. Pode ser um deles, alguns ou mesmo todos.

Há histórias em que o como e as consequências são informados logo na primeira página, para só então trabalharem em cima dos acontecimentos. Outros, mal se preocupam com as consequências e passam todo o livro tentando encontrar o "como".

É claro que, para muita gente, todas estas respostas virão de maneira automática. O cérebro funciona a uma velocidade que a gente, muitas vezes, não consegue acompanhar, mas deixá-las anotadas e organizadas vai permitir um controle muito maior das suas ideias e um encadeamento de acontecimentos que realmente faça sentido.

Esta é só a criação da história. O primeiro rascunho que funcionará de esqueleto para o seu livro. Mas como saber se esta história é, de fato, boa? Como saber se este esqueleto é firme o suficiente para prender o leitor durante todas as páginas?

Isso é tema para o próximo post. :)

Gostou? Compartilhe!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[COUNTDOWN] #5 - Relembrando "Filhinha do papai" e "Espelho, espelho meu"

[Pecados e Tragédias] #23 - Irmã Bonita

Comentário da Professora Carla Kühlewein sobre Memórias de um adolescente