[Memórias] #19 - Os pais de David

[..] Ainda não falei muito sobre meus pais não é? Eles eram pessoas extraordinárias, os dois. Meu pai Augusto, é de uma típica família inglesa. Aos três anos ele se mudou para o Rio de Janeiro com seus tios. Os pais dele queriam que ele vivesse em um país subdesenvolvido até a maioridade, assim, ele daria mais valor a sua incontável riqueza. Ele aprendeu a falar português e modificou seu nome de “Augustus” para “Augusto”. Puro capricho. Ele não queria que soubessem sua verdadeira nacionalidade. Sempre fora muito animado e tranqüilo, raramente perdia a paciência e quase nunca se estressava. Mesmo os tios insistindo que não era necessário, que ele já tinha vaga garantida nas melhores universidades do mundo, meu pai prestou vestibular na Universidade Federal do Rio de Janeiro para direito e passou, mas não teve tempo de terminar o curso. No ano em que voltaria para a Inglaterra, meu pai conheceu minha mãe, Rosa.
[..] Rosa sempre soube que teria um futuro promissor. Aos cinco anos, seu pai morreu. A mãe, com ajuda do mais velho, Roberto, cuidou das duas outras filhas. Nunca passaram fome, mas houve um tempo em que o dinheiro era pouco. Entretanto, logo a situação foi revertida. Rosa era, e ainda é, muito extrovertida. Conversa com todos que vê pela frente e sempre foi muito forte no sentido emocional. Quando concluiu o ensino médio, foi ao Rio de Janeiro prestar vestibular pra psicologia. Ela optou pelo Rio pois sabia que lá haviam maiores possibilidades pra ela crescer profissionalmente. Tempos depois ela conheceu meu pai.
Os dois namoraram e logo se apaixonaram. Meu pai convidou minha mãe para morar com ele na Inglaterra. Ela aceitou. Terminou o curso e foi. Lá, eles se casaram. Em 1990, eu nasci. Alguns anos depois a vovó morreu e a gente teve que voltar.
O fato de eu saber a história deles não quer dizer absolutamente nada. Só sei de como se conheceram porque minha mãe e meu pai gostavam de usar a vida deles como exemplo a ser seguido por mim. A única coisa que eu sabia é que eles se amavam como ninguém nunca se amou. Eles eram perfeitos um para o outro. Nunca, em dezesseis anos de casamento, soube de alguma briga dos dois, mesmo deduzindo, é claro, que algum dia eles já tivessem feito isso.
Por que eu nunca falei “Eu amo vocês” a eles? Eu, como muitas pessoas, achava que meus pais estariam sempre lá, sãos e salvos em casa, esperando para fazer por mim coisas que ninguém mais faria.
Eu nunca soube como que foi o dia em que eu nasci. Tive tanto tempo para perguntar a eles e nunca sequer tive a curiosidade de saber. Nunca soube também se eles queriam ter mais um filho nem como e onde foi sua lua-de-mel. Eu sinto muito a falta deles. Queria que eles estivessem aqui agora, para me abraçar de um jeito que nem Bárbara consegue, para me ajudar nesses tempos tão difíceis, queria ter a oportunidade de conversar com eles novamente, ouvir as piadas de mamãe e as risadas roucas do papai, queria simplesmente poder ouvir a sua voz novamente.
Naquele dia, conversei com Nicolas até bem tarde e quando voltei para casa, já estava começando a chuviscar.
Abri a porta de casa e meus pais estavam sentados nos sofá anormalmente sérios. Meu pai segurava alguma coisa com a mão bem fechada e olhava para o chão, apoiando os seus cotovelos na coxa. Minha mãe me olhava mal acreditando no que via. Aquela cena era completamente adversa a tudo que eu já havia vivido com eles até ali.
- O que aconteceu?
Meu pai perdeu a paciência comigo, mas minha mãe conseguiu controla-lo. Ela começou a falar, mansamente:
- David, eu encontrei uma coisa na sua mochila.[..]

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